Sandra Marinho

2012

Tese integral

Formação em jornalismo numa sociedade em mudança : modelos, percepções e práticas na análise do caso português

Entender o Jornalismo enquanto parte de um processo de construção social do mundo implica vê-lo como construtor e como construído. Como um campo ou sistema que, por isso, muda por força das alterações de ocorrem na Sociedade e que, ele próprio, detém a capacidade de, pelo menos, acompanhar as evoluções que ocorrem, tornando-se também parte delas. Vê-lo com a responsabilidade de proporcionar aos Cidadãos a informação de que necessitam para tomar decisões nesse mundo em mudança coloca-o no centro da vida dos indivíduos, das comunidades e da Democracia. Tal grau de importância exige que nos questionemos sobre a forma como o Jornalismo é entendido, exercido e aprendido/ensinado. É que o pretendemos fazer com este trabalho. Este mundo em mudança que interage com o sistema do Jornalismo é, ele próprio, palco da acção de forças de diversa ordem, sendo que as transformações por elas engendradas serão sempre resultado da interacção dessas forças: sociais, políticas, económicas, tecnológicas, culturais. Reconhecendo esta lógica de interdependência, centramo-nos no impacto da tecnologia digital na forma como os jornalistas trabalham, na sua ideologia profissional e na própria concepção do Jornalismo. Procuramos perceber a natureza destes desafios e a forma como poderão ou deverão reflectir-se na Formação, o que dependerá da qualidade das mudanças operadas no Jornalismo: se são essenciais e representam uma mudança do paradigma tomado por referência para a prática jornalística (o chamado normativo); ou se são relevantes, mas representam mudanças (certamente profundas) no paradigma existente, podendo as respostas a esses desafios ser encontradas no seio da própria ideologia profissional dos jornalistas (nomeadamente no reforço de valores como a ―ética‖). Compreender este processo passa por olhar para o Jornalismo e para a Formação de forma articulada, procurando perceber até que ponto há relação entre os modelos de qualidade do Jornalismo (tal como enunciados por académicos e profissionais) e os modelos tidos por referência para a Formação dos Jornalistas. Para abordar a questão nesses termos, propomos um Modelo para a Avaliação da Qualidade da Formação em Jornalismo, que aplicamos ao contexto português, através de um estudo de caso. A partir deste modelo, é possível medir não só a qualidade da Formação (na sua articulação com o Jornalismo e a sua prática) como também aferir os processos de mudança em curso: por um lado, as mudanças que vão ocorrendo na profissão, em particular pelos efeitos da tecnologia digital; por outro lado, as alterações em curso na própria Formação, particularmente no Ensino Superior (o mais representativo em Portugal), nomeadamente com a adequação dos projectos de ensino à Declaração de Bolonha, um momento de reorganização de todo o sector. Fazemos esta avaliação da mudança sob duas perspectivas complementares: através da medição e comparação de indicadores, em diferentes momentos no tempo; e a partir das percepções dos actores envolvidos nesse processo de mudança (jornalistas, estudantes e docentes Este é, pois, um caminho pelo Jornalismo e pela Formação dos jornalistas, atravessado por desafios, controvérsias, indecisões, relações feitas de avanços e recuos, uma complexidade que, acreditamos, não pode ser vista como um sinal de fragilidade, mas antes como um potencial de regeneração.