Mensagem da nova coordenadora
MARIANA LAMEIRAS
Coordenadora
PolObs / CECS
Muito tem mudado o ecossistema mediático e a configuração das instituições, públicas e não só, nos últimos anos. As inovações tecnológicas e os avanços do ambiente digital pautam as nossas agendas e ditam-nos os rumos a seguir, mesmo que esses rumos sejam de tal modo nebulosos que deixam mais perguntas e inquietações do que respostas e soluções. Procuramos endereçar estes desafios com investigações que nos ajudem a compreender o campo dos media e da comunicação, nomeadamente sob o ponto de vista das políticas.
O papel orientador no PolObs que abraço com Helena Sousa e Manuel Gama permitirá reforçar as áreas de intervenção do Observatório. É com prazer que o assumo e que retomo os trabalhos em torno das políticas para os media e a comunicação com mais atenção e disponi-bilidade. Na nossa agenda, fervilham ideias e planos, mas o fio condutor é, certamente, aquele da nebulosidade que nos traz o digital, seja para o exercício da profissão de jornalista, para a normatividade regulatória dos media tradicionais e não tradicionais ou para os modelos de negócio e a sustentabilidade dos media. Procuraremos contribuir para as políticas de Ciência, Comunicação e Cultura de modo harmonioso e com estudos que permitam a tomada de decisão política baseada em evidências, que incluam as comunidades e os media e que nos permitam contribuir para democracias vivas e participadas.
Evento
“A Conferência Internacional “Governance of Digital Media and Plataforms, Regulation and the Public Interest”, organizada pelo Euromedia Research Group, reúne experientes professores e investigadores nacionais e internacionais para analisar o cenário das plataformas digitais na Europa e noutros locais e também refletir sobre questões relativas ao futuro da governança dos serviços digitais. O programa completo pode ser consultado aqui.
O evento decorre nos dias 3 e 4 de outubro, na Sala de Atos do Instituto de Ciências Sociais da Universi-dade do Minho. Os interessados em participar presencial ou virtualmente devem realizar registo através de formulário.
Na semana anterior, dias 26 e 27 de setembro, haverá sessões presenciais abertas a investigadores e estudantes com interesse nas políticas da comunicação, na governação digital e da internet e na regulação dos media. Tales Tomaz (Investigador e Professor em Políticas e Economia dos Media na Universidade de Salzburgo, com interesse na regulação das plataformas e nas questões da privacidade), Stefan Gadringer (Investigador e Professor no Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade de Salzburgo, com interesse em políticas para a comunicação, jornalismo digital e investigação qualitativa e multimétodos) e Giuseppe Acconcia (Investigador da Universidade de Pádua, com interesse em movimentos sociais e revoltas populares e nos estudos do Médio Oriente) estarão disponíveis para debater assuntos de interesse dos participantes.
Cultura de Guimarães
Está disponível ao público o inquérito por questionário “Cultura de Guimarães” que visa caracterizar os perfis dos públicos da cultura do município. O instrumento integra a primeira fase do projeto “Dinâmicas Culturais de Guimarães dez anos depois da CEC’12: Contributos para a elaboração do Plano Estratégico Municipal Cultura Guimarães 2032” que está a ser desenvolvido por uma equipa multidisciplinar do PolObs. É objetivo desta primeira etapa, a partir de múltiplas técnicas de recolha de dados, traçar o diagnóstico das dinâmicas culturais municipais. A segunda fase será dedicada à elaboração do Plano Estratégico Municipal de Cultura.
Cultura
“Dinâmicas Culturais Municipais: Contributos para a elaboração do Plano Estratégico Municipal Cultura Setúbal 2030” é o mais recente projeto de investigação encomendado ao PolObs pelo município de Setúbal que tem a coordenação científica do investigador Manuel
Gama. O projeto está integrado na candidatura “Cultura Sem Barreiras” e integra duas fases principais: Diagnóstico das Dinâmicas Culturais Municipais; e Contributos para a elaboração do Plano Estratégico Municipal de Cultura. O objetivo principal é a conceção de
forma colaborativa do Plano Estratégico. Há objetivos específicos a serem atingidos ao longo de 10 meses de estudo, entre eles: avaliar os impactos dos investimentos municipais na cultura; analisar as estratégias dos espaços, equipamentos e de eventos culturais; caraterizar os perfis dos públicos da cultura; estudar o grau de satisfação sobre as dinâmicas culturais municipais; e dinamizar um laboratório criativo
para o acompanhamento do processo colaborativo e participativo de elaboração do PEMC.SET2030.
Uma sessão pública de apresentação do projeto está planeada e visa apresentar aos setubalenses e à imprensa o enquadramento e a metodologia de trabalho para a elaboração do plano estratégico; sensibilizar os utentes para a importância do processo participativo
de elaboração do PEMC.SET2030; e auscultar e convidar os setubalenses para participar ativamente na Conferência Municipal de Cultura.
Professor na Universidade de Salzburgo
PolObs :: Na sua opinião, quais são os maiores desafios que se colocam à regulação das plataformas?
O primeiro grande desafio é regular o quê? Às vezes falamos de práticas e processos (ex.: uso de dados), mas às vezes focamos
em empresas estadunidenses específicas. Isso sem falar na diferença dos serviços ofertados por Amazon e Meta, por exemplo. O segundo grande desafio é regular para quê? Fala-se em combater desinformação, vigilância, poder econômico, dentre outros mil, mas não há consenso sobre a definição desses problemas, seus reais impactos e qual é, de fato, a contribuição das plataformas. O terceiro grande desafio é como regular. Estamos falando com frequências de entes globais, sendo que a história de regulação dos media e das telecomunicações é
majoritariamente nacional.
PolObs :: Que papel devem ter os investigadores para lidarem com esses desafios e poderem auxiliar na tomada de decisões políticas?
Os investigadores precisam evitar a tentação de simplesmente reproduzir estudos sobre “a onda” do momento (ex.: como a desinformação sobre Covid-19 está rolando solta na plataforma X) e fazer perguntas mais fundamentais (ex.: como a propagação de desinformação está relacionada com o contexto político). Além disso, investigadores precisam mostrar para o poder público que precisam de dados das plataformas para fazer estudos mais conclusivos sobre seus efeitos. Finalmente, é preciso propor alternativas de governança ao modelo atual,
ampliando o leque das possibilidades políticas (ex.: plataformas públicas em nível europeu).
por INÊS MENDES
What is happening to news: The information explosion and the crisis in Journalism, de Jack Fuller (2010), é um texto que se mantém pertinente, creio, porque continua a ser válida a discussão em torno do excesso de informação, da forma como com ele lidamos (considerando, inclusive, a capacidade e a maneira como os nossos cérebros processam informação) e como aqui se enquadra o jornalismo.
É um livro que nos fala de objetividade, de emoção, do processamento cerebral da informação, do modelo da pirâmide invertida e de narrativa, e de como o jornalismo pode criar ligações entre as histórias e os leitores. Nele, o autor não encontrou vilões, somente pessoas a tentarem lidar com um ambiente que muda demasiado rápido para se adaptarem eficazmente.