Ciência
Os resultados da 1ª fase do estudo “Financiamento pú-blico de formação de recursos humanos: bolsas de dou-toramento em Comunicação” estão disponíveis em rela-tório preliminar produzido pelo Observatório de Políticas de Ciência, Comunicação e Cultura (PolObs/CECS) da Universidade do Minho. O objetivo deste projeto é compreender e analisar o contexto da última década na formação doutoral em Ciências da Comunicação em Portugal a partir da atribuição de bolsas de Doutoramento individuais da Fun-dação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
O relatório apresenta um retrato estatístico e descritivo proveniente de uma base de dados composta por 233 beneficiários de bolsa, entre os anos de 2010 e 2021, e da aplicação de um inquérito por questionário dirigido aos bolseiros de Doutoramento da FCT na área científica das Ciências da Comunicação.
A Universidade do Minho encabeça a lista de instituições com 57 bolsas atribuídas a estudantes de Doutora-mento em Ciências da Comunicação (24%), seguida da Universidade Nova de Lisboa com 38 bolsas (16%) e da Universidade de Aveiro com 32 bolsas (14%).
O tempo para a conclusão do Doutoramento conside-rando a primeira inscrição no concurso até à entrega da tese, foi de até 4 anos (50%); entre 4 e 5 anos (20,5%) e entre 6 e 8 anos (29,5%).
A trajetória pré-doutoral dos respondentes revelou que, da totalidade de respondentes, 65,6% mantiveram, no Doutoramento, a mesma área da formação anterior. Outras áreas foram escolhidas por 32,3% dos responden-tes e 2,1% não responderam. No que diz respeito à produtividade científica, nomea-damente publicações (em revistas e livros), os dados revelaram a frequência de publicação de uma vez por ano (31,3%); 2 vezes por ano (29,2%), 3 vezes por ano (15,6%) e acima de 4 vezes por ano (17,7%). Os respondentes que nunca publicaram trabalhos científicos re-presentam 4,2%.
Do total de respondentes, 93% disseram estar filiados a um centro de investigação e 40,6% são membros de associações científicas. Há, entretanto, uma parcela significativa de respondentes que não estão vinculados a associações científicas (47,9%). O tempo até ao início de uma atividade remunerada na área científica após o Doutoramento é de até um ano em 47% dos casos e de até 2 anos em 4,5% dos casos. Em 25% das situações, os doutorandos já tinham um emprego na área científica e mantiveram.
A segunda fase do projeto consiste na realização de en-trevistas em profundidade e terá início em março de 2023. A equipa do estudo é composta pelas investigado-ras Mariana Lameiras, Madalena Oliveira e Cláudia Dominguez. Ao final, o estudo pretende analisar o impacto, os efeitos e o retorno científico do investimento público em formação avançada.
Cultura
O Observatório de Políticas de Comunicação, Ciência e Cultura está a desenvolver para o município de Torres Novas um quadro de indicadores da Cultura a ser integrado ao Plano Estratégico Municipal para a Cultura (PEMC.TN2030) desenvolvido e coordenado cientificamente pelo PolObs e objeto de consulta pública em 2022.
O trabalho será concluído no primeiro semestre de 2023 e objetiva desenvolver os indicadores que permitam aferir o cumprimento das 108 medidas incluídas no PEMC.TN2030, além de propor um quadro referencial de metas a atingir com o Plano Estratégico e apresentar a nota conceptual para a monitorização e avaliação do processo de implementação do Plano Estratégico. A base metodológica está fundamentada na análise docu-mental de indicadores nacionais e internacionais.
Agenda
No próximo dia 16 de fevereiro, às 16h30, Alberto Arons de Carvalho debruçar-se-á sobre a evolução e as perspetivas das políticas públicas para a Comunicação Social. Esta edição do Seminário Permanente do PolObs conta com a colaboração do Grupo de Trabalho de Políticas, Regulação e Economia dos Média da SOPCOM e decorrerá em formato online, via Zoom.
O link para a sessão é https://bit.ly/SeminarioPermanente_PolObs
Comunicação
Portugal na Presidência do Observatório Europeu do Audiovisual em 2023
Portugal assume a presidência do Observatório Europeu do Audiovisual a partir de 2023. Esta organização do Conselho da Europa, com sede em Estrasburgo, fornece dados e análises das indústrias de cinema, televisão e vídeo na Europa desde 1992. No início de cada ano, a presidência rotativa anual do Observat
ório é assumida por um país membro diferente do Observatório e, este ano, conta com a presença de Marta Sousa, Responsável Jurídica e Internacional do Instituto Nacional do Cinema, Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), no Conselho Executivo.
O PolObs tem colaborado com o Observatório através do desenvolvimento de estudos coletivos (em torno de temas como, por exemplo, as regras aplicáveis às plataformas de partilha de vídeo no decorrer da transposição da Diretiva “Serviços de Comunicação Social Audiovisual”,
revista em 2018) e da redação regular de artigos para a newsletter IRIS – Legal Observations of the European Audiovisual Observatory,
que reporta mensalmente sobre os desenvolvimentos legislativos na indústria audiovisual em 41 países Europeus.
Invesigador Pós-Doc – CECS/UMinho
RACISMO ALGORÍTMICO
PolObs :: Na perspetiva do racismo digital, como deveriam ser desenvolvidos e produzidos os algoritmos?
Deve ser feito um trabalho pedagógico no âmbito da formação de pessoas e empresas que trabalham com a programação algorítmica e a engenharia informática. Falta sensibilização racial por parte deste grupo. Note que a indústria informática e o seu contingente profissional é formado, maioritariamente, por pessoas brancas. Essa característica contribui para uma baixa sensibilidade em termos de produção algorítmica que reproduz a estrutura racista em que as sociedades, como a portuguesa, estão submersas. Nesse sentido, é importante que empresas e universidades promovam não só uma educação antirracista para este setor, como também estabeleça ações reparatórias para a inclusão de pessoas negras nestas áreas.
PolObs :: Em Portugal, há políticas públicas direcionadas às questões étnico-raciais e ao racismo em ambientes digitais?
Não. Em Portugal não é legalmente permitido recolha de dados étnico-raciais. A falta de vontade política na criação destas categorias age como um obstáculo no controle do racismo na sociedade portuguesa. É possível fazer denúncias, já que o racismo passou configurar um crime no país através da Lei n.º 93/2017, embora sejam raros ou inexistentes os casos em que pessoas foram julgadas por crimes raciais. Importante notar o quão recente é esta lei, considerando os séculos de discriminação racial que existe no país.
por PAULO FERREIRA
A pergunta colocada por Josef Trappel e Talez Tomaz no segundo volume do “Media for Democracy Monitor” (MDM) é desafiadora: até que ponto estão as estruturas e a conduta dos principais meios de comunicação a corresponder aos requisitos das democracias contemporâneas? A tentação primeira do leitor é responder com um lapidar “não estão”. O trabalho conduzido pelos dois investigadores encarrega-se de mostrar que a realidade tem cores várias, sobretudo numa época em que a plataformização de conteúdos coloca crescentes (e perigosos) desafios aos ecossistemas noticiosos. Sustentado num amplo conjunto de indicadores empíricos, o MDM traça o panorama do desempenho dos média, no que concerne a valores tão determinantes como a liberdade e a igualdade, num amplo conjunto de países. Essa é, de resto, uma das grandes mais-valias deste segundo volume: em 2011, foram analisadas 10 democracias; em 2021, o trabalho incidiu sobre 18 países.