Boletim #23

Jul-Set 2024

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Ciência

Bolseiros de Ciências da Comunicação e da Informação:
conheça os resultados finais do estudo conduzido pelo PolObs

Os resultados do estudo “Financiamento público de formação de recursos huma-nos: bolsas de doutoramento em Ciências da Comunicação e da Informação”, disponíveis em relatório final, traçam um panorama do percurso dos beneficiários de bolsa de doutoramento da FCT na última década. Com o objetivo central de compreender e analisar o investimento público na formação doutoral em Portugal entre os anos de 2010 e 2021, o estudo apresenta os resultados derivados da aplicação de um inquérito e de entrevis-tas semiestruturadas aos bolseiros.

O estudo aponta que a proveniência científica dos beneficiários das bolsas é diversa, com um terço dos beneficiários a declarar ter formação em outras áreas científicas, o que pode conduzir a reflexões em torno da epistemologia das Ciências da Comunicação e da Informação. Os beneficiários tendem a cumprir o prazo de 48 meses para a conclusão do doutoramento, registando-se exceções que se prendem sobretudo com motivos pessoais e com dificuldades na gestão do plano de trabalhos proposto. Além disso, os resultados sugerem que o investimento traz vantagens aos beneficiários, na medida em que os inquiridos que já concluíram o doutoramento indicaram continuar a fazer trabalho científico, sendo poucos os que parecem estar à margem do sistema científico nacional. É de salientar que o investimento num doutoramento está inserido maioritariamente em estratégias de carreira docente e/ou de investigação, não estando no horizonte dos bolseiros reverter para o setor empresarial os benefícios de uma formação avançada. De forma pormenorizada, os bolseiros relataram dificuldades no processo de atribuição do professor orientador, com exceção dos que ingressaram no doutoramento com o caminho previamente pavimentado. Alguns assinalaram desafios com orientadores nem sempre alinhados com a temática proposta, outros sem disponibilidade para um trabalho mais regular e outros ainda sem uma prática de feedback regular. A maioria expressou descontentamento sobre a ausência de orientação no que diz respeito aos processos de publicação científica e superficialidade ao nível de orientação da própria tese.

O projeto foi desenvolvido pelo Observatório de Políticas de Ciência, Comunicação e Cultura do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (PolObs/CECS) da Universidade do Minho. Integram a equipa de investigação Madalena Oliveira, Elsa Costa e Silva, Mariana Lameiras e Cláudia Dominguez.

Comunicação

O financiamento público dos media na óptica dos jornalistas portugueses

A investigadora Elsa Costa e Silva acaba de publicar o relatório com os resultados do estudo “Financiamento público dos me-dia: o que pensam os jornalistas portugueses?” produzido pelo Observatório de Políticas de Ciência, Comunicação e Cultura (PolObs/CECS). O objetivo central deste estudo, cuja amostra é composta por 280 jornalistas, foi recolher as perceções dos jornalistas acerca de uma possível política de financiamento público dos media de forma a contribuir para uma eventual tomada de decisão. Estando o tema na agenda pública há já alguns anos, ainda que de forma intermitente, não se registaram grande avanços no plano legislativo ou dos compromissos políticos. A maioria dos inquiridos endossa a importância da execução de políticas públicas de financiamento do jornalismo.

Os resultados mostram a preferência por mecanismos que apoiem o jornalismo a partir da subsidiação dos consumidores e da promoção de novos hábitos de consumo. Os profissionais que não concordam com o financiamento público dos media justificam a sua posição maioritariamente com os riscos que a medida acarreta em termos de perda de confiança do público e perigo de interferência editorial.
Os jornalistas defendem que o consumidor de informação deve ser o instrumento através do qual o Estado apoia o jornalismo, beneficiando fiscalmente o contribuinte que investe em informação jornalística. Importante também para esta classe profissional é a preparação de uma geração de novos consumidores de informação, quer através de políticas de literacia mediática, quer promovendo hábitos de leitura nos jovens com o fornecimento de uma assinatura gratuita de um meio informativo.

O relatório completo da investigação pode oferecer informações e pistas de atuação relevantes para o estudo da implementação de uma política de financiamento público dos media privados.

CULTURA LOULÉ 2034

Uma equipa multidisciplinar do PolObs está a implementar, desde junho de 2024 e em colaboração do município de Loulé, o projeto “Dinâmicas Culturais de Loulé em 2024: Envolvimento das comunidades no processo de elaboração participada do Plano Estratégico Municipal Cultura Loulé 2034”.

Conjugando uma abordagem qualitativa com uma abordagem quantitativa, a metodologia concebida pelo PolObs, que integra técnicas e instrumentos diversificados, inspirou-se, nomeadamente, em experiências nacionais e internacionais que privilegiam processos colaborativos e participativos, visando, desta forma, envolver, efetivamente, todos os interessados num processo que ser quer coerente, consistente e consequente, convocando não só os protagonistas do ecossistema cultura-educação do território, mas também outras áreas do desenvolvimento sustentável dos territórios (e.g. ambiental, económica, social) e de intervenção dos municípios (e.g. Ação Social, Ambiente, Comunicação, Mobilidade, Turismo, Urbanismo).

Depois de um processo intenso de observação direta de todas as freguesias do território, foi realizada uma sessão de apresentação pública da metodologia que está a ser implementada no concelho, com o objetivo de convocar as comunidades para este processo que se pretende de todos e com todos. Seguidamente, a equipa do PolObs dinamizou o “Encontro de Associações e Coletividades do Concelho de Loulé 2024”, com o objetivo de, por um lado, mapear a teia de relações estabelecida entre as associações e coletividades do território, e, por outro lado, diagnosticar as principais necessidades do tecido associativo do concelho e que devem ser respondidas positivamente pelo Plano Estratégico Municipal Cultura Loulé 2034.

O próximo momento deste projeto, que estará concluído em maio de 2025, será a dinamização da Conferência Municipal Cultura Loulé 2024, um espaço aberto, democrático e paritário, que pretende criar todas as condições para proporcionar uma ampla participação social no processo de diagnóstico da conjuntura cultural do território, e permitirá a produção de um documento colaborativo que será tido em conta na elaboração do Plano Estratégico Cultura Loulé 2034.

TELESCÓPIO

MADALENA OLIVEIRA

Diretora do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS/UMinho)

 

FCT TENURE: AVANÇOS E DESAFIOS DO FINANCIAMENTO CIENTÍFICO

PolObs :: Que balanço faz dos mais recentes desenvolvimentos nas políticas de financiamento científico em Portugal, nomeadamente da criação do Programa “FCT Tenure”, que visa fomentar a contratação de doutorados para posições permanentes?

Reconheço que se tem dado passos importantes para a valorização da carreira de investigação. Ao visar a promoção de posições de carreira, o programa “FCT Tenure” apresenta-se como uma oportunidade para reforçar as equipas dos centros de investigação e iniciar a estabilização do emprego científico. Embora esteja longe de resolver por inteiro a situação de precariedade dos investigadores portugueses, esta iniciativa pode incorporar nos quadros das universidades algumas centenas de académicos com dedicação de tempo integral a atividades científicas.

PolObs :: A partir do CECS, que desafios se podem antever com a implementação de medidas como esta?

O principal desafio será o da sustentação financeira. O apoio direto da FCT para estas posições de carreira garante apenas os primeiros três anos (no caso das posições de docente) e os primeiros seis anos (no caso das posições de investigador). Isso significa que as universidades (e os centros) – que não recebem financiamento do Orçamento do Estado para suportar os custos de recursos humanos de investigação – terão de se reorganizar financeiramente para acomodar estes custos. Outros desafios incluirão perspetivar as progressões na carreira de investigação, assim como a relação destas posições com as atividades de ensino e gestão académica.

ESTANTE

por ISABEL MACEDO

The societal value of the arts and culture – Its role in people’s wellbeing, mental health and inclusion

European Commission: Directorate-General for Research and Innovation Publications Office of the European Union

(2023)

 

 

“Menos comprimidos, mais teatro”. Artes e cultura para o bem-estar social

Uma em cada seis pessoas na UE tem problemas de saúde mental. O suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 19 anos e o isolamento e a solidão afetam seriamente os adultos mais velhos. Importa, segundo a CE, adotarmos uma perspetiva inclusiva e ao longo da vida que promova as artes e a cultura para melhorar o bem-estar e a saúde mental, em particular, dos grupos sociais sub-representados e vulnerá-veis. A CE sugere transferir uma percentagem das despesas públicas com a saúde para a promoção de eventos culturais, como forma potencial de avaliar o impacto económico de “menos comprimidos, mais teatro”. Propõe, ainda, momentos de co-criação na definição de políticas culturais, desenvolvendo novas expressões artísticas e envolvendo uma diversidade de vozes. Uma abordagem com um poder transformador, já que prevê, pelas artes e cultura, o desenvolvimento de novos meios de expressão, de comunicação intercultural e inclusão social.

Agenda

Ciclo de Seminários PolObs Cultura 2024 – Conexões de Projetos de Doutoramento com Políticas Culturais

08 outubro, 15h
“Políticas públicas e o fenómeno turístico em Óbidos”
Doutorando: Luís Lourenço Silva Ascenso
Universidade do Minho

12 novembro, 15h
“A LAB e a governança cultural estatal: o processo de formalização da participação social nos municípios cearenses
Doutoranda: Bruna Nascimento
Universidade Estadual do Ceará

10 dezembro, 15h
“Extensão Universitária: desafios e potencialidades para a formulação de políticas de formação em cultura”
Doutoranda: Marize Figueira
Universidade do Minho

Políticas públicas

21 agosto
Resolução do Conselho de Ministros n.º 105/2024 cria a Estrutura de Missão para a Comunicação Social.

30 agosto
Decreto-Lei n.º 52/2024 cria o Fundo para a Aquisição de Bens Culturais.

10 de setembro
Portaria n.º 203-B/2024/1 cria o Curso de Educação e Formação de Jovens na Área da Música.