Boletim #3

MARÇO 2021

visualizar versão PDF

 

DESTAQUE

Políticas de ciência, comunicação e cultura inspiram novas candidaturas a financiamento

Vários investigadores do PolObs estão envolvidos em candidaturas a financiamento submetidas à FCT por ocasião do concurso para projetos de investigação em todos os domínios científicos. Da comunicação de ciência à preservação do património e à comunicação para a cultura, passando pela regulação do setor da radiodifusão local e pelas políticas de financiamento da imprensa, os projetos propostos no âmbito do observatório estão em linha com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e visam promover investigação qualificada no campo das políticas de ciência, comunicação e cultura.

 

OPINIÃO

A importância da comunicação em tempos de pandemia

Felisbela Lopes (investigadora do PolObs)

Não foi a variável mais decisiva para interpretar a evolução da pandemia em Portugal, mas a comunicação teve sempre uma enorme centralidade nesse processo. Bem-sucedida em determinados momentos, mal calculada noutros, a forma como as entidades oficiais comunicaram as suas decisões teve sempre consequências diretas no comportamento das pessoas.

Portugal é apontado como um bom exemplo no início da doença por SARS-CoV 2. Beneficiando da posição periférica do país que tardou a chegada do vírus, o Governo foi célere em confinar a população e comunicou isso de forma eficaz. Os jornalistas também assumiram, através do seu trabalho, uma orientação de comportamentos para a prevenção da doença. A partir de 3 de maio de 2020, Portugal passa a estado de calamidade e as restrições foram abrandando. Por parte das autoridades oficiais, houve uma comunicação ziguezagueante que atingiu o ponto mais perigoso no Natal. E que nos atirou para o grupo dos países onde o vírus atingia mais pessoas. De novo, o Governo toma medidas radicais: confina o país a partir de 15 de janeiro e presta mais atenção à comunicação. A 15 de março de 2021, inicia-se o processo de desconfinamento. Desta vez, mais lento, mais apoiado em especialistas e mais monitorizado. Porque já se percebeu que apenas se consegue travar uma nova vaga com decisões assertivas e com uma população respeitadora dos constrangimentos. Ora, isso apenas será possível, se as autoridades oficias souberem comunicar as suas resoluções com eficácia.

 

CULTURA

Mapeamento da presença de mulheres em políticas de cultura

O PolObs acaba de lançar um novo estudo para examinar a presença de mulheres nos cargos de poder político, de decisão e de gestão da área da cultura em Portugal.  O objetivo deste estudo é refletir sobre a implicação das mulheres em matérias de política cultural.

Enquadrado pela Agenda 2030 e pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 5—Alcançar a igualdade de género e empoderar todas as mulheres e raparigas—, esta nova proposta de trabalho da equipa do PolObs visa identificar as mulheres que trabalham no setor da cultura em Portugal, no desempenho de funções diretivas.

O projeto é coordenado pela investigadora Sara Vidal Maia e pretende identificar o perfil (ou perfis) destas mulheres, recorrendo à análise do tecido político-cultural autárquico, regional e nacional/central, para caracterizar as instâncias culturais que são dirigidas no feminino.

O desenvolvimento do estudo terá como base uma metodologia combinada que conjugará uma abordagem qualitativa com uma abordagem quantitativa e integrará instrumentos e técnicas diversificadas.

 

COMUNICAÇÃO

Os média e a democracia

As principais conclusões do Media for Democracy Monitor (MDM2020), um projeto que reuniu investigadores de 18 países – entre os quais Portugal –, serão publicamente apresentadas num “webinar” marcado para o próximo dia 15 de abril, às 15h00 (via Zoom). O projeto visou analisar, quer através da recolha de dados diversos, quer através de entrevistas a jornalistas, de que modos os meios de comunicação contribuem, ou podem contribuir, para fortalecer e dinamizar a democracia. No “webinar”, aberto a quem queira registar-se (ver http://euromediagroup.org/mdm/mdm2021-launch/), serão abordados alguns temas estudados neste trabalho, como a precarização do trabalho jornalístico ou o modo como os média têm lidado com a desinformação.

 

TELESCÓPIO

A saúde do setor cultural português durante a pandemia

Manuel Gama (Coordenador-adjunto do PolObs)

PolObs ::  Que marcas deixa um ano de pandemia no setor cultural português?   

A contaminação do setor cultural pela COVID-19 revelou-se dramática um pouco por todo o mundo, sendo que Portugal não foi exceção. Os danos que a pandemia provocou no frágil setor cultural português foram profundos e diversificados: cancelamento prolongado e generalizado de atividades; redução significativa ou por completo de rendimentos; ausência de mecanismos de apoios público, atempados e adequados; desemprego e encerramento de organizações.

Assim sendo, torna-se óbvio que nenhum paliativo poderá sarar as feridas profundas que foram abertas de forma tão rápida.

PolObs :: Que políticas seriam necessárias para dar novas oportunidades aos profissionais e às organizações culturais?

Em Portugal, aos constrangimentos provocados pelo inesperado da situação, acrescem as debilidades estruturais que se têm traduzido de múltiplas e variadas formas ao longo dos anos.

Serão muitas as medidas que urge implementar para que se possa dizer que temos políticas culturais coerentes, consistentes e consequentes, mas, dada a atualidade da discussão, espera-se que o estatuto do trabalhador da cultura, que aparentemente será aprovado a 22 de abril de 2021, responda efetivamente às reais necessidades do setor.

 

ESTANTE

por Rita Ribeiro

O antipatrimónio. Fetichismo do passado e dominação do presente

Pablo Alonso González

Imprensa de Ciências Sociais, 2019

O património cultural imaterial tem estado no centro das políticas culturais, da escala mundial à local. Por efeito da Convenção da UNESCO para a salvaguarda do património cultural imaterial (2003), multiplicam-se os processos de inventariação e classificação de manifestações culturais e desencadeia-se uma corrida a tais selos de certificação.

Na senda dos estudos críticos do património, Pablo Alonso González, a partir de um estudo etnográfico realizado em Maragatería (Espanha), desconstrói a “máquina patrimonial” e os efeitos de governamentalidade que produz em territórios e populações que sucumbem à submissão das suas manifestações culturais a lógicas de exploração económica, política e ideológica. Merecem também menção o prefácio de Rui Gomes Coelho, que elabora uma breve análise do impulso patrimonializador que, do Estado Novo ao presente, percorre Portugal, e o posfácio de Paula Godinho sobre os riscos da patrimonialização e a necessidade de suster a voragem capitalista sobre as práticas culturais que são um bem comum.

 

Agenda

22 de abril, 16h00

A próxima edição do Seminário Permanente do PolObs “Comunicação de Ciência: trajeto e enquadramento” realiza-se no dia 22 de abril, a partir das 16h, em formato virtual pela plataforma Zoom. A convidada desta sessão é Marta Entradas, investigadora do ISCTE-IUL. O acesso para a sessão pode ser feito pelo link https://videoconf-colibri.zoom.us/j/81247584563

29 de abril, 14h00

A Agenda 2030 é discutida todos os meses pelo PolObs com profissionais do setor cultural de Portugal e da América Latina.  No dia 29 de abril, a roda de conversa “A dança como instrumento disseminador da Agenda 2030 no Paraná” decorrerá às 10h (Brasília) e 14h (Lisboa). O link para a sessão é http://bit.ly/Agenda2030_Brasil